Em 25 de agosto, a floresta amazônica receberá mais uma vez o Workshop de Arquitetura Flutuante conduzido por Marko Brajovic, especialista em biomimética, aluno do WDCD e Nacho Marti, professor da AA. Desta vez, o curso também estabeleceu uma meta inédita e emocionante: gerar ideias para o WDCD Climate Action Challenge.
De fato, estamos satisfeitos em anunciar que o Climate Action Challenge será o fio condutor e tema principal da edição de 2017 do workshop da Architectural Association (AA). Durante oito dias, estudantes de todo o mundo estarão elaborando modelos, protótipos e trabalhando em propostas de soluções arquitetônicas que se adaptem às variações das marés e aos aumentos dos níveis da água.
As margens exuberantes do lago Mamori e as espécies flutuantes que lá habitam oferecem a inspiração necessária. Todo o processo criativo será documentado, e o resultado final será inscrito como concorrente do Challenge.
A poucas semanas do início dos trabalhos, conversamos com o os diretores do programa – Brajovic, Marti e a especialista em biomimética Alessandra Araújo – sobre as expectativas para o curso e sobre o papel da arquitetura no panorama das mudanças climáticas. Leia a entrevista abaixo ou visite www.aaschool.ac.uk para saber mais. Inscrições abertas até 18 de agosto!
Q: Vocês estão prestes a partir para a floresta amazônica na terceira edição de seu Workshop de Arquitetura Flutuante. O que inspirou vocês a criar esse programa?
Nacho Marti: Temos promovido workshops na Amazônia brasileira por mais de 10 anos e acreditamos que há lições importantes a aprender sobre as maneiras que a natureza tem de resolver problemas. Utilizamos a indescritível riqueza da floresta amazônica como um laboratório criativo para conectar os participantes com a natureza e desafiar a sua criatividade limitando o acesso à tecnologia.
Além disso, muitas das questões que afetam a área do lago Mamori são também questões globais. Ao longo dos anos, temos sido surpreendidos com as mudanças radicais nos níveis do lago Mamori devido à variação dos níveis de chuva nas estações de seca e de cheia. Esses limites inconstantes estabelecem uma relação interessante entre as pessoas e o meio ambiente. No entanto, quando os níveis de água sobem demais, as consequências são devastadoras. Esse é um problema global, e precisamos aprender com a natureza a criar construções mais adaptáveis e flexíveis ao meio ambiente.
Q: Neste ano, o tema do Workshop está focado no WDCD Climate Action Challenge. Por que é tão importante que os arquitetos se envolvam com as questões climáticas?
NM: O mercado de construções gera um impacto massivo no meio ambiente, e, de acordo com o Brown and Bardi’s Handbook para energia 50% das emissões de gases estufa podem ser atribuídas às construções. É imperativo, portanto, que arquitetos aprendam a desenvolver estratégias favoráveis ao meio ambiente, criando edificações belas e acolhedoras. Existe uma abundância de pesquisas relacionando a beleza das construções com o bem-estar mental, mas também queremos que esses ambientes promovam bem-estar ao planeta.
Q: O workshop acontece nas entranhas da Amazônia. No entanto, o aumento do nível do mar e da temperatura são problemas globais e intrinsecamente urbanos. Quais são as lições que as cidades podem aprender com a floresta?
Alessandra Araujo: A floresta tropical é o ecossistema mais desenvolvido da Terra – isso é medido a partir de diversos parâmetros como ciclos de energia, fluxo de matéria, diversidade de padrões, nichos especializados e estabilidade do sistema. É bastante complexo, e de fato esses parâmetros ecológicos são totalmente compatíveis como indicadores urbanos.
Cidades e florestas também têm arquiteturas similares. Ambas possuem camadas de ocupação dentro de seus próprios indivíduos, necessidades e conexões. Os habitantes da floresta sobrevivem pois pertencem a um rico sistema de interdependência e colaboração. Por outro lado, à maioria dos planos urbanos falta sensibilidade para conexões e colaborações. Em vez disso, podemos notar muita segregação e conjuntos isolados de pessoas e sistemas. A maioria das cidades também desperdiçam muita energia: consomem mais do que podem devolver ao sistema. Como bióloga, vejo uma grande oportunidade de aprendizado na floresta. Há muitas coisas que ela pode nos ensinar a respeito da integração da vida em suas múltiplas formas e a respeito da conservação de nutrientes nesse ciclo fechado de matéria e energia.
NM: Consideramos que há muito potencial na exploração de estratégias arquitetônicas “glocais”, o que significa designs que empregam métodos, materiais e culturas locais e que são importantes integralmente, esteticamente e em relação ao meio ambiente.
Q: O que mais preocupa em relação ao modo como estamos lidando com as mudanças climáticas? O que os deixa mais otimistas?
AA: Me preocupo com a educação. Ainda tem muita gente que não entendeu o que está havendo, por que estamos enfrentando esses desafios e como reverter esse quadro. Mas acredito que essa crise representa novas oportunidades, que temos de enfrentá-la revendo os nossos hábitos e adaptando-os. A natureza lida com crises o tempo todo, mas, depois do caos, ela sempre encontra um equilíbrio. Acredito que nós também – como parte da natureza – podemos descobrir o nosso equilíbrio.
Q: Algum conselho aos arquitetos que possam estar prestes a inscrever um projeto no Climate Action Challenge?
Marko Brajovic: A arquitetura tem um papel muito importante como força de transformação, não apenas no nível de infraestrutura, mas também como um estado de espírito e materialização das forças políticas e sociais. Essas manifestações refletem o nosso presente e propõem o nosso futuro. Assim, a arquitetura não é apenas uma profissão, mas principalmente uma atitude que deve expressar visões profunda e genuinamente humanistas. Também devemos lembrar que a arquitetura é a integração de nós, seres humanos, com o planeta – incluindo todas as suas forças naturais.
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Interessado? A Architectural Association Visiting School Amazon Workshop acontece de 25 de agosto a 2 de setembro de 2017. Inscrições podem ser feitas através do site: http://www.aaschool.ac.uk/STUDY/VISITING/amazon.
Não consegue vir ao Brasil? Saiba mais sobre projetos na natureza no livro In Nature We Trust, de Brajovic, lançado em 2016, que apresenta suas experiências como arquiteto e inclui diversos projetos inovadores do multidisciplinar Atelier Marko Brajovic, em São Paulo.
Quer inscrever seu projeto do WDCD Climate Action Challenge? Visite nosso site ou aprenda mais sobre por que a água é um dos 5 pontos-chave quando falamos sobre os impactos das mudanças climáticas. Prazo para inscrições: 24 de setembro de 2017.
Imagens fornecidas pelo Architectural Association Visiting School Amazon. No topo: Visita dos estudantes ao lago Mamori; o aluno André Pinto registrando as texturas da floresta; alunos trabalhando em seus protótipos de madeira.