Apesar do crescimento incessante das grandes cidades e sua formatação atual, pensada desde o século passado para priorizar os carros, as novas tecnologias e mudanças no comportamento do consumidor estão lentamente mudando este paradigma. A sessão de ativação O fim dos carros ou um novo começo? discutiu a importância de uma visão integrada e sistêmica sobre a mobilidade. Por Edward Lenzi.

Os cidadãos requerem a ocupação cada vez maior de espaços públicos e não veem mais o carro como uma posse aspiracional, pela incoerência de seus gastos, tamanho e uso efetivo no dia-a-dia. Estamos migrando de uma economia de posse para uma economia de acesso, onde a facilidade oferecida por um produto ou serviço importa muito mais do que a sua posse.

Caio Vassão, professor da USP, e Barão Di Sarno, da Questto|Nó, apresentaram algumas possibilidades para o futuro. Além da condução autônoma e novas fontes energéticas, já experienciadas por empresas como Google ou Tesla, os carros devem ser repensados como uma plataforma passível de mudanças constantes e ágeis, em sinergia com novas tecnologias. Veículos individuais feitos com novos materiais, mais leves e compactos, e sistemas biomiméticos aplicados em grandes cidades podem reduzir impactos ambientais, acidentes, tempo gasto em viagens e, claro, custos econômicos.

SISTEMA CIRCULATÓRIO

O estudo de Di Sarno propõe uma leitura das cidades e suas vias como um grande sistema circulatório. Através de sistemas digitais de dados abertos e a definição prévia de rotas, velocidades e deslocamentos, faixas digitais exclusivas funcionariam em um sistema pulsante, controlando o fluxo dos carros em comboios com redução de esforço aerodinâmico e gastos energéticos. Empresas de cargas, coleta de lixo e sistemas emergenciais, por exemplo, também seriam grandes beneficiadas por esse sistema.

ESTRUTURAS ESCONDIDAS

Renata Grande, da Ford, enfatizou ainda a urgência da empresa por uma visão sistêmica da mobilidade, muito além da perspectiva dos carros, e pontuou algumas ações da marca como o incentivo às caronas compartilhadas, integração entre modais e a pesquisa por veículos autônomos.

Como concluiu Natalia Garcia (Cidades para Pessoas), “as cidades são como palimpsestos, sistemas legados feitos com sobreposições de camadas que deixam estruturas, códigos e sistemas. Precisamos repensá-las a partir do que se apresenta, unindo tecnologia e inteligência para suprir necessidades e motivações em constante transformação. Mobilidade não é sobre como as pessoas se movem, mas o que move as pessoas, por que se movem, e essas motivações da mobilidade também estão mudando”, disse ela.